Redação Nota Máxima na UNIFESP

A Organização Internacional para as Migrações (OIM) lançou o relatório mundial sobre a migração de 2024, no qual descreveu como a migração foi relevante para impulsionar o desenvolvimento humano global, ao passo que os movimento migratórios encontram-se diante de diversos entraves. Nesse sentido, atualmente, a imigração está em um dilema quanto à imagem do ser imigrante. Essa decorre tanto dos movimentos migratórios surgirem a partir de oportunidades para a melhora na condição de vida dos indivíduos migrantes, quanto, em contraponto, do grave desafio gerado pela intolerância nos países destinos desses transeuntes.

A princípio, é nítido que as oportunidades intrínsecas à mudança de território motivam a geração de um ser imigrante. Tal assertiva é possível, pois as chances de melhora nas condições de vida originam-se a partir da comparação entre as condições existentes na nação de origem com aquelas possíveis em outros países. Sob essa análise, ao perceber que o outro território é mais rico em capacidades de desenvolvimento humano, o indivíduo considera válido o deslocamento a fim de garantir melhores meios de subsistência para si e sua família. Nesse viés, exemplos de tendências migratórias sempre fizeram parte da história global, porém, na hodiernidade, aquele que se sobressalta é o da seleção francesa de futebol, campeã da copa de 2018, cuja composição do time era um reflexo da imigração da França, visto que grande parte da escalação era descendente de africanos os quais mudaram-se para o país em busca de melhores condições de vida do que aquelas oferecidas em suas nações maternas. Dessa forma, a oportunidade, manifestada como possibilidade para melhora na qualidade de vida, é a principal responsável pela formação de imigrantes.

Contrário a isso, é evidente a ação da intolerância como desafio para a imigração. Sob essa ótica, os ideais racistas e eugenistas presentes nas nações destino de tais movimentos migratórios fomentam, nos territórios em que atuam, noções de segregação étnica, defensoras de um repúdio ao estrangeiro, por esse supostamente macular a pureza racial e cultural desses países. Como manifestação disso, há a propaganda política de um partido de extrema direita na Suíça, recentemente publicada, que divulgava 'por mais segurança', em que uma ovelha negra, representante dos imigrantes, seria separada das ovelhas brancas, representantes do povo suíço, como maneira de garantir a dita segurança. Com isso, a intolerância demonstra-se como um desafio para a plena integração dos imigrantes nas suas novas nações, porque impede que esses sintam-se confortáveis e bem-vindos no novo território. A exemplo disso, tem-se o caso do jogador brasileiro de futebol Vinícius Junior, vítima de casos de racismo na Espanha durante e após partidas pelo seu clube, tido por partes das torcidas rivais como indigno de integrar o futebol europeu, o qual chegou a considerar sair do país devido aos ataques racistas, não se sentindo integrado na nação socialmente. Dessa maneira, a intolerância ao estrangeiro demonstra-se como o principal desafio a ser enfrentado na integração de povos migrantes.

Portanto, o ser imigrante, apesar de motivado pelas oportunidades de transumância, tem de lidar com o desafio da intolerância. Sob esse prisma, as possibilidades de melhores condições de vida, desejadas pelos migrantes, encontram-se ameaçadas por ideais racistas e eugenistas. Devido a isso, enquanto não se alterar a mentalidade dos nativos das nações destino, a imigração continuará com o caráter ambivalente descrito no relatório da OIM, positiva por ofertar melhores condições de vida, mas negativa por tornar vítimas de preconceito seus praticantes.