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Vestibular 2026

Redação UNIFESP 2026: Luto Contemporâneo

18 de Dezembro de 2025
8 min de leitura
Equipe Vestibular Med

Tema da Redação UNIFESP 2026

Luto contemporâneo: entre a espetacularização da morte e a manutenção da lembrança coletiva

Com base nos textos de apoio apresentados e em seus próprios conhecimentos, os candidatos devem escrever um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa.

📄 Textos de Apoio

Texto 1

Com o avanço das tecnologias digitais de informação e comunicação e o crescente uso das redes sociais, foram extintas, para muitos, as divisas entre o espaço real e o virtual. A sociedade de hoje experimenta o resultado do surgimento de diversos fenômenos que transformaram a forma como interagimos com o mundo, através do uso dessas plataformas, que ressignificam diariamente os processos sociais e comunicacionais. Nesse cenário, a morte e o luto receberam um novo sentido para o ambiente online.

O professor do Centro de Pesquisa em Mídia, Comunicação e Informação da Universidade de Bremen, na Alemanha, Andreas Hepp, considera que a midiatização cotidiana confere às redes sociais uma intersecção da vida pública com a privada, na qual as pessoas se envolvem e interagem umas com as outras, mesmo sem ter vínculos fora das telas.

A velocidade de transmissão de informações por meio das redes sociais, não só fornecidas em tempo real, mas também reemitidas por meio do compartilhamento, tem o poder de alcançar, em poucos segundos, inúmeras pessoas, tornando a propagação da notícia ainda mais rápida entre os usuários. Com isso, entre tantos usos e sentidos que as redes sociais atribuíram para o luto e a morte, tornar público esse momento pode assegurar manter viva a memória de uma pessoa que morreu por meio da lembrança coletiva, já que a morte representa algo como o fim ou o esquecimento de tudo.

Por outro lado, para além do desejo de dar voz à dor da perda, a atitude de tornar público também pode ser associada ao fato de que a morte é uma questão que naturalmente desperta curiosidade e, quando partilhada no ambiente virtual, tem o poder de transformar-se em espetáculo, através de likes, comentários e compartilhamento, chamando ainda mais a atenção das pessoas para o acontecimento.

(Patrícia Patrocínio. "Você já se perguntou sobre o ato de compartilhar o luto nas redes sociais?". https://mercadizar.com, 16.12.2020. Adaptado.)

Texto 2

A morte, parece, já foi mais simples. Antes das vacinas, dos antibióticos e de outras intervenções da medicina, morria-se com tanta facilidade que chegar à idade adulta era quase um jogo de cara e coroa. Um estudo publicado em 2013 na revista Evolution and Human Behavior analisou 17 sociedades — de comunidades paleolíticas a modernos caçadores-coletores — e concluiu que, em média, 49% da população morria na infância.

Não que se banalizasse a morte. Desde a chamada pré-história, há registro de rituais fúnebres, inclusive entre os extintos neandertais. Os textos deixados pelos gregos enfatizavam o quão trágico era perder um familiar ou amigo; no Antigo Egito, as preparações para esse importante momento começavam ainda em vida.

Morrer, porém, era esperado como parte do ciclo da vida. Talvez, os avanços da medicina tenham nos deixado mal-acostumados: não importa a doença nem a idade do falecido, sempre nos assustamos com um anúncio fúnebre. Contribui para isso a midiatização da morte, exacerbada pela internet. Morrer tornou-se um espetáculo. Explora-se cada aspecto da vida do falecido: as últimas palavras, o derradeiro jogo de futebol assistido, a lista de maridos/namorados/ficantes, frases célebres, festas a que foi ou deixou de ir. Parece que não basta homenageá-lo, ressaltando seu legado. Alguns sites, contas de redes sociais e programas de TV exploram cada aspecto de sua existência exaustivamente, com o estardalhaço midiático.

(Paloma Oliveto. "A espetacularização da morte". www.correiobraziliense.com.br, 24.07.2025. Adaptado.)

Texto 3

Quando abro o jornal ou assisto a televisão, encontro a morte em abundância: ela está presente desde as matérias de violência até os obituários de personalidades. Os meios de comunicação, enquanto moldura social, tornaram-se locais de focalização das práticas simbólicas ligadas à morte. Hoje, esse simbolismo adentra as telas.

A transformação das tecnologias de informação doou à morte um significado ampliado, mas, ainda contraditório, oscilando entre a proximidade e o afastamento, como observamos ter acontecido, em geral, nas sociedades ocidentais, em diferentes tempos. À medida que os homens constroem diversas tecnologias a fim de repensar a questão de sua finitude (a partir de técnicas de reprodução, aumento da expectativa de vida etc.), no desejo de afastar a morte de si, erguem monumentos e obras com o objetivo de eternizar a passagem pela Terra. Instauram, nesse sentido, práticas comunicativas que comportam além da informação do enunciado, relações subjetivas que atuam como jogos de veiculação de afetos, e a afetividade está diretamente relacionada à comunhão (à comunidade). A relação da morte com a vida, nesse sentido, é tecida dentro da ordem simbólica, fazendo com que a morte pertença tanto ao universo do indivíduo quanto ao universo social, porque travamos lutas cotidianas a fim de participar da sociedade, pertencer ao nosso tempo, para que, depois de mortos, sejamos lembrados.

(Renata Rezende Ribeiro. A morte midiatizada, 2015. Adaptado.)

💡 Aspectos Importantes do Tema

Espetacularização da Morte

  • • Exploração midiática do falecimento
  • • Transformação do luto em conteúdo
  • • Likes, comentários e compartilhamentos
  • • Curiosidade mórbida nas redes sociais

Lembrança Coletiva

  • • Preservação da memória do falecido
  • • Compartilhamento de homenagens
  • • Construção de legado digital
  • • Rituais de luto no ambiente virtual

Tecnologia e Sociedade

  • • Extinção das divisas entre real e virtual
  • • Midiatização cotidiana
  • • Velocidade de transmissão de informações
  • • Ressignificação de processos sociais

Dimensão Histórico-Cultural

  • • Rituais fúnebres ao longo da história
  • • Morte como parte do ciclo da vida
  • • Avanços da medicina e expectativas
  • • Simbolismo da morte nas sociedades

✍️ Orientações para a Redação

Estrutura Dissertativa-Argumentativa

Introdução: Apresente o tema contextualizando a relação entre morte, luto e tecnologia na contemporaneidade. Estabeleça sua tese sobre a tensão entre espetacularização e memória coletiva.

Desenvolvimento: Desenvolva argumentos consistentes explorando os aspectos da espetacularização (exploração midiática, curiosidade mórbida) e da lembrança coletiva (preservação da memória, rituais digitais). Use dados dos textos de apoio e exemplos concretos.

Conclusão: Retome sua tese e sintetize os argumentos, propondo uma reflexão sobre o equilíbrio entre compartilhar o luto e evitar a banalização da morte nas redes sociais.

📌 Norma-Padrão da Língua Portuguesa

Utilize concordância verbal e nominal corretas, regência adequada, pontuação apropriada e evite repetições desnecessárias. Revise ortografia e acentuação.

🎯 Coesão e Coerência

Use conectivos adequados para articular ideias. Mantenha progressão temática e unidade textual. Cada parágrafo deve desenvolver uma ideia central relacionada ao tema.

💭 Repertório Sociocultural

Além dos textos de apoio, utilize referências culturais, filosóficas, históricas ou sociológicas pertinentes ao tema. Demonstre repertório legitimado e produtivo para sua argumentação.

📚 Possíveis Abordagens

Abordagem Sociológica

Analise como as redes sociais modificaram práticas culturais relacionadas ao luto e à morte. Discuta a midiatização da vida privada e a transformação da morte em produto de consumo visual.

Abordagem Psicológica

Explore as motivações por trás do compartilhamento do luto: necessidade de apoio social, busca por validação emocional, ou tentativa de eternizar a memória do falecido no ambiente digital.

Abordagem Filosófica

Discuta a relação entre finitude humana e tecnologia. Reflita sobre como a busca pela imortalidade digital contrasta com a naturalidade da morte como parte do ciclo da vida.

Abordagem Crítica

Critique a espetacularização da morte e analise os limites éticos do compartilhamento do luto. Questione se a exposição excessiva não banaliza um momento que deveria ser de introspecção.

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